Notícias

24/06/2020 09h00
Motoboys de aplicativos prometem cruzar os braços na próxima semana

Nas últimas semanas, trabalhadores que atuam no setor de entregas por meio de aplicativos têm se organizado para reivindicar melhores condições de trabalho e pagamento. Além disso, também viraram figuras constantes nos recentes protestos contra o presidente Jair Bolsonaro — participam dos atos com sua indumentária característica: bicicleta e a mochila colorida.

Esse movimento mais combativo e organizado no Brasil tem sido visto como uma novidade no setor informal de serviços mediados por tecnologia. Ele começou em São Paulo há cerca de três meses, mas tem ganhado força e atingindo outros Estados, como Pernambuco e Minas Gerais.

No próximo dia 1º, os trabalhadores prometem uma paralisação da categoria. Segundo eles, o objetivo é "parar" o serviço de entregas em boa parte do país, setor comandado principalmente por três empresas: Ifood, Rappi e Uber Eats.

Entre as demandas, o grupo pede maior transparência sobre as formas de pagamento adotadas pelas plataformas, aumento dos valores mínimos para cada entrega, mais segurança e fim dos sistemas de pontuação, bloqueios e "exclusões indevidas".

"Queremos mostrar que as empresas dependem de nós, trabalhadores. Vamos provar para eles que sem nós eles não ganham dinheiro, que não somos apenas números", explica o motoboy Paulo, de 31 anos.

Após seus vídeos viralizarem nas redes sociais, Paulo emergiu como uma espécie de liderança de um grupo chamado "Entregadores Antifascistas", que tem participado de manifestações contra o governo Bolsonaro e apoia a paralisação marcada para o início de julho.

No entanto, o movimento grevista é mais amplo e contempla entregadores de várias cidades, principalmente São Paulo. Ele tem sido organizado em dezenas de grupos de Whatsapp, onde vídeos e textos com convocações são compartilhados.

Queda de renda
Um dos motoboys da "linha de frente" do movimento é Mineiro, de 30 anos, que pediu para que seu nome verdadeiro não fosse revelado nesta reportagem, pois teme bloqueios por parte dos aplicativos.

Há três anos, ele deixou um emprego formal como entregador de gás para trabalhar com as plataformas. "No início era uma maravilha. Eu ganhava R$ 6 mil por mês facilmente", conta, por telefone.

Porém, nos últimos meses, sua renda vem diminuindo. "Hoje, para conseguir ganhar R$ 2 mil livres preciso trabalhar mais de 12 horas, todos os dias, sem folga", explica.

Embora a demanda pelo serviço tenha aumentado por causa da pandemia de covid-19 e do isolamento social, os trabalhadores relatam uma queda de remuneração nos últimos meses — o movimento pede um aumento dos valores mínimos para corridas.
Segundo os entregadores, as empresas não são transparentes sobre as tarifas nem informam sobre eventuais mudanças no serviço.

"A gente assina um contrato que fala em R$ 1,50 por quilômetro rodado, por exemplo. Mas, quando você vai fazer a conta, há corridas em que ganhamos menos de R$ 1 por quilômetro. A gente não é consultado quando essa taxa cai ou quando eles mudam o cálculo. Nossa paralisação quer mexer onde mais dói: no bolso das empresas", diz o motoboy.

Por meio de um questionário online, pesquisadores da Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) ouviram 252 trabalhadores do setor em 26 cidades entre os dias 13 e 20 de abril.

Entre os entrevistados, 60,3% apontaram uma queda na remuneração, comparando o período de pandemia ao momento anterior. Outros 27,6% disseram que os ganhos se mantiveram e apenas 10,3% afirmaram que estão ganhando mais dinheiro durante a quarentena.

De maneira geral, as empresas (de app) negam falta de transparência e queda de remuneração. Afirmam que, por causa da pandemia, mais pessoas começaram a trabalhar no setor, o que aumentou a concorrência para conseguir corridas.

O motoboy Mineiro também conta que hoje só consegue trabalhar em uma das plataformas. "Se você bota a cara pra bater, ou vai em uma manifestação, os aplicativos te bloqueiam. Se você reclamar muito no site, também te bloqueiam. Não querem que a gente tenha voz", diz.

(As informações são do UOL/ BBC Brasil)