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10/01/2020 09h05
Brasil se equilibra numa bicicleta alugada

Mais uma matéria, dessa vez o Jornal El País, retrata a precarização do trabalho informal de entregas rápidas por aplicativo. A reportagem conversou com dois entregadores que atuam nessa condição. Veja o que eles disseram:

Aos 23 anos, Mike resolveu tentar ganhar a vida como entregador de aplicativo após ser demitido de um supermercado, onde era registrado. Há três meses, ele paga um plano de 20 reais para alugar as bicicletas do Itaú diariamente para fazer entregas em Pinheiros, na Zona Oeste da cidade. Morador de Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo, ele precisa viajar duas horas de ônibus para chegar ao local. “Trabalho cinco dias por semana, do meio-dia até de noite. Ganho cerca de 400 reais por semana. No fim do mês, é algo parecido com o que recebia no supermercado, mas sem nenhum direito trabalhista”, diz.

Enquanto tenta procurar um emprego formal para ter mais estabilidade financeira para sustentar a mulher, que está desempregada, e as duas filhas, Mike torce sempre para que um dia chuvoso não atravesse o seu caminho. “Dia de chuva fico em casa e perco um dia de trabalho, não tem jeito”, lamenta. Em 2020, ele espera conseguir tirar uma habilitação para fazer as entregas de moto. “Vai facilitar um pouco o trabalho. É cada subida que pego, mas o melhor mesmo seria um emprego com carteira”.

Há mais de dois anos, o também entregador de aplicativo, Daniel não consegue assinar sua carteira de trabalho. O último emprego registrado foi como repositor em um mercado. “Tive um acidente doméstico, machuquei a mão e não consegui completar nem os três meses de experiência”, conta o entregador que só conseguiu uma nova renda na informalidade.

Ainda que nos últimos dois trimestres a taxa de desemprego tenha registrado queda - no fim de novembro atingia 11,9 milhões de pessoas- e a taxa de ocupação tenha chegado ao recorde de 94,4 milhões de pessoas, o grande desafio continua sendo reduzir a informalidade do mercado de trabalho. Atualmente, 38,8 milhões de brasileiros estão dentro da categoria, cerca de 41%, incluindo os que trabalham por conta própria. A informalidade gera consequências negativas, segundo especialistas, como a renda menor para os trabalhadores por ser, em geral, ocupações que pagam menos e também uma queda da contribuição para a Previdência, já que são poucos os que contribuem para o INSS.

“Analisamos a evolução do ponto de vista qualitativo ou quantitativo? Claro que é importante o crescimento da população ocupada em 2019, mas ele foi construído em cima de um trabalhador por conta própria, uma empresa sem CNPJ e um empregado sem carteira”, diz Adriana Beringuy, analista da PNAD Contínua do IBGE.

(As informações são do Jornal El País)