Mensagem do presidente

29/05/2020 12h45
Mortes de ciclistas e motociclistas crescem na quarentena. Por que será???

Comércios fechados, restaurantes atendendo apenas via delivery e uma realidade que parece não ter fim: motoboys por aplicativos estão cada vez mais expostos a todos os riscos. E quando se usa o termo todos, isso se refere também aos problemas de falta de segurança de trânsito já enfrentados por esses entregadores mesmo antes da pandemia, agora com um agravante: aumento desenfreado da demanda de serviços.

Dados levantados nesta semana pelo Infosiga, divulgados pelo governo estadual de SP, apontam uma queda de 41% de acidentes de trânsito envolvendo carros no período entre 24 de março e 30 de abril em 104 cidades paulistas com mais de 70 mil habitantes. A explicação para isso é a diminuição desses veículos nas ruas.

Em contrapartida, o que antes já era uma preocupação e alerta do nosso setor, agora virou estatística: motoboys estão morrendo mais nesse período. Segundo o levantamento, o número de mortos em acidente de trânsito em março e abril somente na cidade de São Paulo subiu quase 50% se comparado ao mesmo período do ano passado. Segundo a análise, 56 motociclistas morreram na capital em março e abril, contra 38 nestes mesmos meses do ano passado, o que mostra uma alta de 47,3%. No estado, os números também cresceram.

Motoboys estão trabalhando mais de dez, doze horas, sob o estresse da pandemia, mais a pressão pelas entregas, que devem ser realizadas no menor espaço de tempo; queda no valor do frete repassado e falta de tempo para descanso, para sequer se alimentar. Um adendo aqui: dia desses, empresários formais do setor de motofrete saíram às ruas para entregar quentinhas na região da Sé, em São Paulo, e se depararam com uma situação lamentável: motoboys de apps sem ter o que comer, aceitando sua primeira refeição do dia, em plena noite. Sim, não é somente a falta de tempo que gera essa dificuldade, muitos não têm recursos para sequer almoçar ou jantar.

Máscara? Álcool em gel? Alimentação? Segurança no trânsito? A meta é ser ágil e ponto. O resto fica em segundo, terceiro plano, ao contrário, perdem o serviço e correm o risco de serem bloqueados do aplicativo.

É papel e obrigação das empresas orientar seus entregadores, dar todo o suporte necessário para um trabalho digno e seguro e isso não é o que vimos nesses aplicativos, que se preocupam apenas em propagar seus serviços e o resultado reflete em toda a sociedade.

Enquanto empresários celetistas de motofrete buscam cada vez mais a profissionalização do setor, com melhorias para as empresas e colaboradores, esses apps caminham na contramão.

Recentemente, o SEDERSP participou do documentário “Pandelivery”, que retrata a vida e o cotidiano desses motoboys por aplicativo. Tivemos a oportunidade de expor nosso sentimento sobre essa realidade. Em breve esse material será lançado. Aguarde.